Nessa sessão será possível acessar matérias e notícias atuais relevantes na temática da Odontologia Desportiva, bem como a áreas associadas. O intuito dessa sessão do site é disponibilizar informações publicadas recentemente em jornais, revistas e outros meios de comunicação, com o enfoque para o público leigo nessa temática. Uma ótima leitura!

Dra. Ana Paula Falcão de Moura*

Ao contrário do que se pensa, a Odontologia Desportiva não é uma especialidade odontológica ligada à Educação Física, mas sim uma área de atuação da própria Odontologia. Ela visa oferecer cirurgiões-dentistas com visão esportiva, a fim de melhorar o rendimento dos atletas, promovendo a saúde bucal e prevenindo possíveis lesões decorrentes de atividades esportivas. Por ter um enfoque multidisciplinar, ela reúne uma equipe de profissionais das mais diversas especialidades odontológicas, tais como: periodontia (gengiva e estruturas de suporte dentário), endodontia (tratamento de canais), próteses e implantes (reposição de dentes perdidos), ortodontia/ortopedia (correção de dentes mal posicionados e alterações ósseas), cirurgia e traumatologia buco-maxilo-facial (traumatismos decorrentes da prática esportiva).
Apesar de não ser matéria curricular nas faculdades e de não existirem cursos de formação específicos, há aulas e palestras como atividades extra-curriculares, que visam informar o cirurgião-dentista sobre este novo campo de atuação, com enfoque preventivo e curativo.
Embora a Odontologia Desportiva no Brasil seja ainda muito jovem, já foi criada a Associação Brasileira de Odontologia Desportiva (Abrodesp), que além de dentistas, é composta por médicos, fonoaudiólogos, nutricionistas e psicólogos. Além disto, no Conselho Regional de Odontologia de São Paulo existe uma Comissão de Odontologia Desportiva, e, no Ginásio do Ibirapuera, foi formado o 1º Centro de Odontologia Desportiva do Brasil.
O atleta, por exigir mais do seu físico em relação às demais pessoas, necessita estar sempre atento à sua saúde, e a saúde bucal não pode ficar fora deste contexto. Constatou-se que o rendimento de um atleta pode ser reduzido se ele tiver algum distúrbio na sua saúde bucal. E ainda, por outro lado, seu rendimento está intimamente relacionado com a vitória ou a derrota. Deste modo, visando uma melhoria no desempenho do atleta, faz-se necessário um exame odontológico minucioso, a fim de promover o tratamento de eventuais doenças ou mesmo atuar de forma preventiva. É preciso planejar bem o tratamento do atleta, pois cuidados diferenciados devem ser tomados. Por exemplo: restaurações metálicas não são indicadas, por isso devemos ter cautela na prescrição de medicamentos. A restauração metálica, por ser muito dura e resistente, pode levar à fratura de dentes devido ao impacto sofrido durante a prática esportiva. Desta forma, recomendamos a restauração em resina, que no impacto é mais fácil de ser quebrada do que o dente. Já com os medicamentos, temos de ter cuidado para não interferirem no exame anti-dopping.
Alterações bucais também podem levar à redução do desempenho do atleta, tais como: má oclusão (engrenagem entre os dentes), respiração bucal, perdas dentárias, desordens na ATM (articulação temporomandibular), problemas nos canais, alterações gengivais/periodontais, cárie dentária, raízes residuais, etc. Podem levar também ao aumento do risco de lesões (nas articulações dos joelhos, por exemplo) e dificuldade para recuperação de lesões, como as musculares, bem como diminuição da capacidade aeróbica, não aproveitamento do alimento ingerido (comprometimento da mastigação e conseqüente digestão), alterações na postura e na visão, dores de cabeça, zumbidos, estafa e fadiga precoce.
Desta forma, o tratamento do atleta abrange diversas especialidades odontológicas, cujo objetivo principal é promover sua saúde bucal, e claro, reabilita-lo, o que interfere na estética e auto-estima. Mas temos uma grande preocupação: prevenir um risco a que atletas são expostos, que são os traumas desportivos, visto que são a terceira maior causa dos traumas faciais. Buscamos prevenir as fraturas dos ossos da face e dos dentes bem como lesões de língua, lábios e bochechas. O traumatismo dental é um problema de saúde pública, pois pode levar à perda dentária imediata (no momento do acidente) ou mediata (no decorrer do tratamento ou anos após, devido à reabsorção das raízes dentárias). Mas caso o trauma desportivo ocorra, podemos intervir corrigindo o dano anatômico e o distúrbio funcional.
Quando falamos em prevenção na Odontologia Desportiva, aí pensamos nos protetores bucais para prática de esportes. As modalidades de maior risco são os de contato, ou de impacto, como: boxe, judô, karatê, jiu-jitsu, luta greco-romana, sumô, futebol, basquetebol, voleibol, handebol, mountain bike, motocross, hockey in line, patins in line, etc. Nestes esportes, as chances do atleta sofrer contusões orofaciais durante a carreira variam de 33% a 56% . Podem ocorrer choques, cabeçadas, cotoveladas, traumatismos crânio-faciais, fraturas nasais, ferimentos corto-contusos e lacerantes, e até mesmo quedas acidentais ou agressões físicas como socos e pontapés.
Agindo preventivamente, os protetores bucais atuam de duas maneiras: protegendo os dentes de fraturas ou avulsões (arrancamentos) e prevenindo lesões nas bochechas, língua e lábios. Segundo a Academia Norte-Americana de Odontologia Desportiva, o uso de protetores bucais na prática esportiva reduz em até 80% o risco de perda dentária. Nos Estados Unidos e Europa, usar equipamentos de segurança é lei em inúmeras competições esportivas, mas no Brasil o uso de protetores bucais ainda é restrito a praticantes do boxe.
Existem três tipos de protetores bucais: os pré-fabricados (com tamanhos P, M e G), os termoplásticos (também pré-fabricados,) e os confeccionados pelo dentista. Os dois primeiros não têm boa adaptação à arcada dentária, interferem na fala, na respiração e na tensão muscular do atleta, que morde, aperta constantemente para não sair do lugar. O segundo leva o atleta a riscos de queimaduras na boca, pois é posto na pessoa após ser tirado de imersão na água quente para amolecer e melhor adaptar-se à arcada dentária, é o famoso “ferve e morde”. O terceiro tipo é definitivamente o melhor para o desempenho do atleta, pois é confeccionado após moldagem da arcada dentária, e é personalizado, pois não atrapalha na respiração e pode-se ingerir líquidos sem retira-lo da boca. Os protetores duram em média 1 ano, devem ser lavados com água corrente após o uso e armazenados em estojos próprios. Devem ser trocados nas crianças e adolescentes com certa regularidade, devido ao crescimento ósseo, ou sempre que o atleta apresentar alterações drásticas de peso.
A atuação da Odontologia Desportiva no Brasil só tende a crescer, a exemplo do que já acontece nos Estados Unidos e Europa. A tendência é que academias, clubes, federações esportivas e escolas passem a divulgar e a solicitar a necessidade de meios de proteção para a prática de esportes de uma maneira geral, quer seja dos seus associados, atletas ou alunos. Além disso, encaminhar o atleta/aluno/associado para um exame odontológico, a exemplo do que ocorre em relação à avaliação física. Enfim, prevenir é o melhor caminho, pois é mais barato saudável. Portanto, vamos nos cuidar.

* Dra. Ana Paula Falcão de Moura é Cirurgiã Dentista Pós Graduada pela Universidade de São Paulo

O pequeno Ronaldo Luiz Nazário de Lima, quando tinha 15 anos, quase deixou de ser o famoso Ronaldinho, eleito o melhor jogador do mundo por duas vezes (1996/97) e campeão da Copa do Mundo de 1994, nos Estados Unidos, devido a um simples problema nos dentes. Quando começou a praticar o futebol, Ronaldo já batia um bolão, porém, era muito mole. O “projeto de atleta” não corria, era bastante desengonçado e possuía um condicionamento físico considerado muito ruim. O técnico do São Cristóvão chegou a pensar em cortá-lo da equipe. Mas para a sorte de Ronaldo e, é claro, para o mundo da bola, o time do subúrbio carioca possuía na comissão técnica um dentista com visão esportiva. Ao conhecer o garoto, logo ele pôde observar que o futuro craque da seleção tinha dois canais infecciosos, uma enorme falha ortodôntica, além de respirar pela boca.
Ao tratar o problema, o até então “preguiçoso” Ronaldinho passou a ter o mesmo desempenho físico dos outros jogadores e melhorou ainda mais o seu belo futebol. Saiba que um atleta que respira pela boca apresenta rendimento físico 21% menor, se comparado ao que respira pelo nariz. Já um canal aberto representa uma queda de 17% no condicionamento. Imagine então, quantos “Ronaldinhos” o esporte brasileiro pode estar perdendo, a cada ano, devido a problemas bucais? Quantas pessoas não devem estar conseguindo o seu melhor condicionamento físico devido a este problema?
Assim como o jogador, grande parte da população brasileira não leva a sério os cuidados com os dentes. Acreditam que aquela dorzinha de dente que tanto os atrapalha no dia a dia não seja grave. Mas mal sabem estas pessoas que uma cárie esquecida ou uma gengiva sangrando constantemente podem causar problemas no estômago, rins e intestino, levando a uma infecção e até à perda de um ou mais dentes, diminuindo assim, consideravelmente a resistência do organismo.
As pessoas tratam a odontologia como se fosse cosmética e não como a medicina. Elas vão a um dentista como vão a um cabeleireiro e manicure, por exemplo. O problema é que o cabelo só influi na estética, diferentemente de um dente, que pode levar até a morte. A boca é uma engrenagem e se você perde um dente ela não vai funcionar direito. Isso gera problemas de Articulação Temporomandibular (ATM), causando dificuldades de visão, dores de cabeça e nas costas.

Futuro

A Odontologia Desportiva ainda engatinha no Brasil. A primeira comissão destes dentistas foi criada oficialmente somente neste ano. Até então, existiam poucos profissionais com visão esportiva no país, embora até na Copa de 58, os jogadores da Seleção tenham feito exames odontológicos antes da competição.
Geralmente os atletas, profissionais e amadores, são tratados de forma convencional, o que é um grande erro, porque o tratamento de um esportista, sobretudo daquele que compete, deve ser diferente de uma pessoa comum.
Em uma pessoa normal, por exemplo, podemos fazer uma restauração de metal, por ser mais resistente. Já num atleta isto não é recomendável. Como os desportistas sofrem muitos impactos durante a prática esportiva, esta restauração pode acabar fraturando algum dente. Por isso é necessário o uso de resina, que por ser mais frágil, jamais causará este problema. Para um atleta é melhor quebrar a restauração do que um dente, pois ela é mais fácil de trocar.
A grande diferença da odontologia desportiva para a convencional é que o profissional especialista em esporte conhece a cabeça do atleta. Muitas pessoas apresentam dores nas costas e o médico trata como problema muscular, sendo que a causa é odontológica. Neste caso, a pessoa não melhora e ele e o médico não entendem o por quê da não recuperação. Quando uma pessoa tem algum problema na boca ela leva até duas vezes mais tempo para se recuperar, pois o sistema de defesa do organismo ficará dividido entre a lesão da boca e a física.

Principais problemas de uma boca mal cuidada

• Maloclusão (encaixe dos dentes)
• Respiração bucal
• Infecções bucais (canais não tratados, problemas de gengiva e raízes residuais)
• Ausência dental (provoca dificuldades de mastigação e digestão)
• Se houver ausência de dentes em apenas um lado a pessoa vai aumentar o trabalho do outro, causando problemas de ATM.
• Conseqüência dos descuidados com a boca
• Perda de desempenho e, consequentemente, do rendimento
• Maior facilidade para ter lesões
• Dificuldade para recuperação de lesões (o sistema de defesa vai estar voltado, em
Grande parte dos problemas causados pela boca:
• Diminuição da capacidade aeróbica
• Estafa e fadiga precoce
• Não aproveitamento do alimento ingerido

A importância da Odontologia Desportiva no dia a dia

É necessária a avaliação de um cirurgião dentista com visão esportiva para o melhor rendimento do atleta. Nas academias brasileiras, 99,9% cometem este erro gravíssimo que afeta seus alunos, não solicitando avaliação odontológica ficando estes atletas com perda de rendimento físico. Na vida agitada que levamos, não tendo tempo para uma boa escovação, muitas vezes machucamos nossa gengiva, o que nos faz perder 10% do condicionamento físico. Muitas vezes, devido à má formação da arcada dentária, os dentes inferiores ficam mais inclinados para dentro do que o normal e acabamos respirando pela boca, o que nos faz perder 21% de rendimento. Estes e muitos outros problemas podem estar presentes na boca de muitos atletas amadores e simplesmente não sabem. De nada nos adianta termos um corpo bonito e “sarado” se não pudermos demonstrar nossa felicidade num simples e belo sorriso.

Fonte: CRO-SC

Quem pratica esportes deve ter condições físicas adequadas para competir sem riscos de traumas ou diminuição do rendimento físico. Uma simples dor de dente, por mais sutil que seja, pode fazer a diferença em uma prova decisiva de natação, por exemplo. Isto porque a saúde da boca envolve mecanismos que abrangem várias funções do corpo, como respiração e circulação.
O COB — Comitê Olímpico Brasileiro — já havia notado a importância de um acompanhamento dentário em atletas na comissão de Medicina Esportiva para os jogos de Atenas, quando especialistas no Brasil começaram a prestar serviços particulares a esportistas de clubes, academias e federações.
A Odontologia Desportiva é uma área com fortes chances de expansão, dada a importância não só no tratamento de doenças, como também na prevenção. Basta lembrar de um fato curioso ocorrido em 1996: Ronaldinho, eleito o melhor jogador do mundo, quase foi dispensado do São Cristóvão, time que defendia aos 15 anos de idade, graças ao baixo desempenho esportivo. Não era por acaso: tinha dois canais e uma grave falha ortodôntica, que o fazia respirar pela boca, comprometendo seu condicionamento aeróbico. Foi por este e outros episódios que nasceu a Associação Brasileira de Odontologia Desportiva, fundada por dentistas de todo país, com um enfoque multidisciplinar, incluindo palestras e cursos a profissionais que desejam se aprofundar no assunto.
Segundo o cirurgião-dentista Leonardo Marchini, formado pela FOSJC-UNESP, os atletas precisam de um tratamento diferenciado, não só para cuidar de eventuais doenças, como para prevenir traumas nos dentes. “A odontologia desportiva oferece protetores bucais e placas de mordida que variam conforme o tipo de esporte. Eles podem ser encontrados tanto em lojas de material esportivo como ser confeccionados por dentistas em laboratórios, de acordo com a necessidade de proteção do atleta. Normalmente, esportes radicais, lutas marciais e competições de quadra são os que mais expõem os dentes a fraturas“, explica o dentista.
Dados curiosos divulgados pela National Youth Sports Foundation, revelaram que cerca de 5 milhões de dentes são perdidos por ano em atividades esportivas. Outra fonte de pesquisa, a ADA—American Dental Association—constatou que pelo menos 200 mil traumas são evitados devido aos protetores bucais. Não é em vão que dentistas e fabricantes do produto estão investindo pesado nesta forma de prevenção.
Mas quando prevenir não é suficiente, dentistas desportivos devem ter aparatos para tratar os traumas quando eles já tiverem ocorrido. “Aí fica a cargo do profissional recorrer a tratamentos restauradores diretos ou indiretos, que envolvem próteses, facetas e incrustações”, explica o Dr Leonardo.
A cirurgia-dentista Ana Paula Falcão, formada pela Universidade de São Paulo, presta assistência particular a atletas e também acredita que dor e desconforto causados por problemas odontológicos são suficientes para prejudicar o desempenho e falta de concentração. “É possível associar sintomas físicos a problemas bucais, principalmente pulpite e dores orofaciais. Além disso, respiração feita pela boca pode agravar o problema. Se realizado em conjunto com a otorrinolaringologia e fonoaudiologia, o acompanhamento odontológico pode tratar formas respiratórias inadequadas”, afirma a especialista.
“Uma vez que a consciência da importância odontológica nos esportes vem aumentando, acredito que a tendência de aprofundamento e especialização neste campo vai crescer nos próximos anos, especialmente no Brasil”, afirma Dra Ana Paula.

Fonte: Agência Brasileira de Notícias